Amato Lusitano
Amato Lusitano | |
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Nascimento | 1511 Castelo Branco |
Morte | 21 de janeiro de 1568 Salonica (Grécia) |
Residência | Dubrovnik |
Cidadania | Reino de Portugal |
Alma mater | |
Ocupação | médico, botânico, anatomista |
Empregador(a) | Universidade de Ferrara |
João Rodrigues (Castelo Branco, 1511 – Salonica, 1568) vulgarmente conhecido como Amato Lusitano foi um notável médico português de religião judaica que viveu no Século XVI[1].
Amato Lusitano foi um poliglota. Dominava o latim, o grego, o hebraico, o árabe, o português, o castelhano, o francês, o italiano e o alemão. Max Solomon, um seu biógrafo, considerou-o como «o Homem que representa a Medicina do século XVI, como erudito, anatomista e clínico». Era conhecido e respeitado, privando de perto com importantes personalidades do mundo ocidental.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Amato Lusitano nasceu em Castelo Branco, Portugal, em 1511, católico de pais cristãos-novos (convertidos do judaísmo ao catolicismo). Estudou medicina na Universidade de Salamanca, tendo regressado a Portugal em 1529.
Por se desconfiar que ainda pudesse praticar o judaísmo, foi impedido de regressar a Portugal devido às perseguições da Inquisição, o que o levou a viajar para Antuérpia (1534), onde publicou o seu primeiro livro Index Dioscoridis (1536). É aí que adopta o nome de Amato Lusitano, com o qual passa a assinar as suas obras.
Viajou por toda a Europa até se estabelecer na cidade de Ferrara (1541) em Itália, onde foi Professor de Anatomia na Universidade e assistente do então famoso Cananus. Aí inicia a escrita da primeira Centúria que dedica a Cosme de Médici.
A instabilidade política e religiosa que então se vivia em Itália levou-o a Roma, onde foi médico do Papa Júlio III, Ancona (1547), Pesaro (1555), mas a intensificação da perseguição anti-semita — com a nomeação do Papa Paulo IV — forçaram-no a abandonar a Itália e buscar refúgio no Império Otomano. Primeiro em Ragusa, que na altura era uma República Independente e, depois, em Tessalónica, hoje Salónica, Grécia, cidade com grande população judaica; então parte do Império Otomano, onde escreveu a sua sétima e última Centúria, local onde pereceu, em 1569, com 57 anos, vitimado pela peste que tentou combater.
Obra
[editar | editar código-fonte]Descobriu, enquanto assistente de Cananus a circulação do sangue, através de inspecções da veia ázigos, na qual descreveu também pela primeira vez as válvulas venosas.
Amato Lusitano, foi um dos primeiros médicos a comentar a obra de Dioscórides no século XVI. Escreveu os tratados Index Dioscoridis, em 1536, In Dioscorides de Medica materia Librum quinque enarrationis, em 1556, e Curationium Centuriae Septem, em 1556.
As «Centúrias das Curas Medicinais» são, entre as obras que escreveu, um dos seus maiores legados à Humanidade. Escreveu sete «Centúrias», em latim no original, conhecendo-se 59 traduções em diferentes línguas. Cada «Centúria» apresenta 100 casos clínicos («Curas», como se dizia na época), com descrição exacta do caso, idade do doente, descrição da doença e terapêutica utilizada. Estas reflexões permitem observar o mundo no século XVI para lá dos aspectos meramente médicos: hábitos alimentares, ritmos do quotidiano, guerras e tensões económicas e políticas, hierarquias sociais, abertura às maravilhas do mundo que ia sendo descoberto.
- Exemplo de Centúrias de curas medicinais:
- Cura V
- Da dor de cólica proveniente de lombrigas
- «A mulher dum canteiro, angustiada com dores de cólica, depois de ter usado muitos e vários remédios, bebeu o anídoto Mitridáticoo, lançou pela boca uma lombriga, arredondada e comprida, ficando sã.»
- Comentários
- «É certo que há cólicas originadas pelas lombrigas, pois destas provêm até outras afecções, como a bulimia, fome insaciável. O mesmo se conclui da história sagrada do livro 3.º da Medicina da TRALLIANO.»
Em 1946, o Instituto Português de Oncologia iniciou, pela primeira vez em Portugal, a edição da obra de Amato Lusitano, traduzida por Firmino Crespo e José Lopes Dias.
Referências
- ↑ «A IMPORTÂNCIA DE AMATO LUSITANO NA MEDICINA DO SÉCULO XVI» (PDF). Cadernos de Cultura nº XVI. Novembro de 2003. Consultado em 21 de Dezembro de 2013
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Entre bibliotecas e boticas: A controvérsia dos simples entre Amato Lusitano e Pietro Andrea Mattioli, século XVI., por Bruno Martins Boto Leite, In: ALESSANDRINI, Nunziatella, RUSSO, Mariagrazi, SABATINI, Gaetano, VIOLA, Antonella. DI BUON AFFETTO E COMMERZIO RELAÇÕES LUSO-ITALIANAS NA IDADE MODERNA. Lisboa: CHAM, 2012, pp. 113-142.
- Literatura e Medicina: o caso do médico e humanista português, Amato Lusitano, por António Maria Martins Melo, Florentia Iliberritana, Universidad de Granada, No 25, 2014
- “Usos medicinais das plantas, em Amato Lusitano: o bálsamo”, por António Maria Martins Melo, In: Humanismo e Ciência: Antiguidade e Renascimento, UA - Editora da Universidade de Aveiro, 2015
- Plantas de uso terapêutico e alimentar em Amato Lusitano e Diogo Pires, por Virgínia Soares Pereira, In: Humanismo, Diáspora e Ciência (séculos XVI e XVII): estudos, catálogo, exposição, Imprensa da Universidade de Coimbra, Biblioteca Pública Municipal do Porto, 7 março a 30 abril de 2013
- Amato Lusitano ed Ancona
- Obras de Amato Lusitano na Biblioteca Nacional de Portugal